segunda-feira, 7 de junho de 2021

 quando te reencontrei/ eu delirei/ procurei/ um amor/ antigo/ que por meio de um delírio/ não acreditei/ porque continuei/ o que tinha escrito/

sábado, 8 de maio de 2021

O uivo, Ginsberg

 UIVO


Para Carl Salomon


ALLEN GINSBERG


I


Eu vi as melhores cabeças da minha

geração destruídas pela loucura…


… famélicos histéricos nus, arrastando-se

pelas ruas do bairro negro ao amanhecer

na fissura de um pico,



hipsters (1) de cabeça ardendo pela ancestral

conexão com um dínamo estrelando na

maquinaria da noite,


que pobreza e farrapos e ocos olhos loucos se

sentaram fumando na escuridão sobrenatural

de apartamentos sem aquecimento flutuando

pelos telhados das cidades contemplando o jazz,

que desnudaram cérebros para o céu sob o

viaduto e viram anjos muçulmanos cambaleando

nos telhados dos cortiços iluminados,



que passaram pelas universidades com serenos olhos

radiantes alucinando Arkansas e tragédias

Blake-iluminados entre os mestres da guerra (2),


que foram expulsos das academias por pirarem &

publicarem odes obscenas nas janelas do

crânio,


que se encolheram de cueca em quartos descasados,

queimando seu dinheiro em cestos de lixo e

ouvindo o Terror através das paredes,


que foram revistados nos pentelhos voltando

por Laredo com um cinturão de fumo

para Nova York,



que engoliram fogo em hotéis vagabundos ou beberam

terebintina em Paradise Alley, (3) morte, ou

flagelaram seus torsos noite após noite

com sonhos, com drogas, com pesadelos despertos,

álcool e paus e fodas sem fim.


incomparáveis ruas fechadas de nuvens trêmulas

e raios na cabeça pulando para postes

no Canadá & em Peterson (4), iluminando todo

o imóvel mundo do Tempo no meio,


solidez de peiote dos corredores, autoras de

cemitério de fundo de quintal arborizado, porres

de vinho nos telhados, subúrbios envidraçados

no viajante néon cintiliante dos faróis

vibrações de Sol e Lua e árvore nos crepitantes

crepúsculos de inverno do Brooklyn, declamações

sobre o lixo e a mansa luz soberana da mente,


que se prenderam no metrô para a interminável

viagem de Battery ao sagrado Bronx com benzedrina

até que o ruído de rodas e crianças

os arrancou de volta tremendo boquiabertos

abatidos desertos do cérebro drenados de todo

brilho na lúgubre luz do zoológico,


que afundaram a noite inteira na luz submarina do

Bickford’s voltaram à tona e passaram

a tarde de cerveja choca no desolado Fuggazi’s (5)

ouvindo o baque da catástrofe numa jukebox

hidrogênica,



que falaram setenta horas sem parar do parque

ao apê ao bar ao Bellevue (6) ao museu à ponte

do Brooklin,


batalhão perdido de debatedores platônicos

pulando das sacadas das escadas de incêndio dos

parapeitos do Empire State da Lua,


tatagarelando gritando vomitando sussurrando

fatos e lembranças e anedotas e espasmos

oculares e abalos de hospitais prisões e

guerras,


intelectos inteiros regurgitados em completa

rememoração por sete dias e noites com olhos

radiantes, carne para a sinagoga caída na calçada,


que sumiram numa nada zen Nova Jersey deixando

uma trilha de obscuros cartões-postais da

prefeitura de Atlantic City,


sofrendo suores orientais e ossos moídos marroquinos

e enxaquecas chinesas na abstinência de um

desolado quarto mobiliado de Newark,


que perambularam à meia-noite pelo

pátio da ferrovia se perguntando para onde ir

e se foram, sem deixar corações partidos,


que acenderam cigarros em vagões vagões vagões de carga

rumando ruidosamente pela neve para fazendas

solitárias na noite avoterna,


que estudaram Poe Plotino São João da Cruz

telepatia e cabala bop porque o universo

instintivamente vibrava aos seus pés em Kansas,


que erraram pelas ruas de Idaho procurando

visionários anjos indígenas que eram

visionários anjos indígenas,


que só acharam estar loucos quando Baltimore

rebrilhou em êxtase sobrenatural,


que pularam em limusines com o chinês de

Oklahoma no impulso da chuva de meia-noite

de inverno à luz da rua de uma cidadezinha,



que vadiaram famintos e sós através de Hounton

atrás de jazz ou sexo ou sopa, e seguiram o

brilhante espanhol para conversar sobre a

América e a Eternidade, tarefa impossível,

então pegaram um navio para a África,


que desapareceram nos vulcões do México

não deixando nada além da sombra de

seus jeans e a lava e a cinza da poesia

espalhadas na lareira de Chicago, (7)


que reapareceram na Costa Oeste investigando o

FBI de barba e bermuda com grandes olhos

pacifistas sensuais em sua pele queimada

distribuindo folhetos incompreensíveis,


que abriram buracos nos braços com cigarros

protestando contra o narcótico nevoeiro

de tabaco do capitalista


que distribuíram panfletos supercomunistas na Union

Square chorando e tirando a roupa enquanto as

sirenes de Los Angeles atravessavam seus gemidos,

gemendo através de Wall Street, e a balsa

de Staten Island também gemeu,


que caíram no choro em ginásios brancos nus

e trêmulos diante da maquinaria de outros esqueletos,


que morderam policiais no pescoço e urraram de

deleite em viaturas por não terem cometido crime

algum além da pederastia e intoxicação

selvagemente servidas,


que uivaram ajoelhados no metrô e foram

arrastados do telhado agitando genitais

e manuscritos,


que se deixaram ser enrabados por motoqueiros

beatíficos e gritaram com prazer,


que chuparam e foram chupados por esses querubins

humanos,

os marinheiros, carícias do Atlântico

e amor caribenho,


que transaram de manhã de tarde nas roseiras

e na grama dos parques públicos e cemitérios

espalhando livremente seu sêmen para

quem quer que viesse,


que soluçaram interminavelmente tentando rir mas

se contorceram com o choramingo atrás de um

biombo num banho turco onde o anjo loiro & nu

veio vará-los com uma espada,


que perderam seus namorados para as três megeras

do destino a megera caolha do dólar heterossexual

a megera caolha que pisca dentro do útero

e a megera caolha que só sabe sentar sobre sua

bunda e retalhar a dourada fibra intelectual

do tear do artesão,


que copularam extáticos e insaciados com uma

garrafa de cerveja uma namorada um maço de

cigarros uma vela e caíram da cama e

continuaram pelo chão e ao longo do

corredor e acabaram despencando com uma

visão da boceta final e gozaram expelindo

a derradeira ejorração de consciência,


que acalmaram as xoxotas de um milhão de garotas

tremendo ao pôr do sol, tinham os olhos vermelhos

de manhã mas estavam prontos para acalmar a

xoxota da aurora, bundas brilhantes

nos celeiros e peladas no lago,


que foram se prostituir no Colorado numa miríade

de carros noturnos roubados , N.C., herói secreto

desses poemas, garanhão e Adônis de Dever – (8)

júbilo à memória de suas incontáveis trepadas

com garotas em terreno baldio & fundos de botecos,

… cadeiras capengas de cinema, no cume de montanhas em

cavernas ou com garçonetes esquálidas no familiar

erguer de saias solitário à beira da estrada &

especialmente solipsismos secretos de

banheiros públicos, & becos da cidade natal também,



que apagaram em imensos cinemas sórdidos, foram

transportados em sonhos, acordaram numa Manhattan

inesperada e se resgataram de ressacas em porões

de Tokays impiedosos (9) e terrores de sonhos cruéis da

Terceira Avenida & cambalearam até

agências de emprego,


que andaram a noite toda com os sapatos cobertos de

sangue pelo cais recoberto de neve esperando que

uma porta se abrisse no East River repleta

de vapor e ópio,



que criaram grandes dramas suicidas nas

margens-penhascos de apartamentos do Hudson

sob o holofote antiaéreo azul da Lua &

suas cabeças hão de ser ungidas pela coroa do

esquecimento,


que comeram o cordeiro ensopado da imaginação ou

digeriram o caranguejo do fundo lamacento dos

rios deBowery,


que choraram ante o romance das ruas com suas

carroças cheias de cebola e música ruim.


que se sentaram em caixas respirando na escuridão sob

a ponte e se ergueram para construir clarivicórdios

em seus sótãos,


que tossiram num sexto andar do Harlen coroado

de chamas sob o céu tuberculoso

cercado pelas caixas laranja da teologia, (10)


que rascunharam a noite inteira deitando e rolando sobre

invocações sublimes que no amanhecer amarelo

eram estrofes de bobagens,


que cozinharam animas apodrecidos pulmão coração pé rabo

borsht & tortillas sonhando com o puro

reino vegetal,


que se atiraram sob caminhões de carne em busca de

um ovo,


que jogaram seus relógios do telhado como apostas

numa Eternidade fora do Tempo, & despertadores

caíram sobre suas cabeças todos os dias pela

década seguinte,


que cortaram os pulsos três vezes sucessivamente sem

sucesso, desistiram e foram forçados a abrir

lojas de antiguidades onde acharam estar

envelhecendo e choraram,



que foram queimados vivos em seus inocentes ternos

de flanela na Madison Avenue em meio a rajadas de versos

de chumbo & o tropel cerrado dos batalhões de ferro

da moda & os guinchos de nitroglicerina

das bichinhas da publicidade,

& o gás mostarda de sinistros

editores inteligentes, ou atropelados pelos táxis

bêbados da Realidade Absoluta,


que se jogaram da ponde do Brooklyn isso de fato

aconteceu (11) e se foram desconhecidos e

esquecido pela espectral confusão de Chinatown

sopa vielas & carros de bombeiro, sequer uma

cerveja de graça,


que cantaram em desespero nas janelas, jogaram-se

da janela do metrô, saltaram no Paissac imundo,

pularam nos braços dos negros, choraram pela rua afora,

dançaram descalços sobre garrafas de vinho quebradas

arrebentaram discos de nostálgico jazz europeu

da Alemanha dos anos 1930 mataram o uísque e

vomitaram gemendo no banheiro ensanguentado (12),

lamentos nos ouvidos e o sopro de colossais

apitos de neblina,


que voaram estrada abaixo pelas rodovias do passado

viajando na turbo-Gólgota

vigília prisão-solidão de cada um

ou encarnação do jazz de Birmingham (13),


que dirigiram 72 horas através do país para descobrir

se eu tinha uma visão ou se você tinha ou

se ele tinha uma visão para descobrir a Eternidade,


que viajaram a Denver, que morreram em Denver, que

voltaram para Denver & esperaram em vão, que

zelaram por Denver & meditaram & se isolaram em

Denver e finalmente partiram para descobrir o

Tempo, & agora Denver tem saudade de seus heróis,


que caíram de joelhos em catedrais irrecuperáveis

rezando por salvação e luz e peitos para cada um,

até que a alma iluminou seus cabelos por um segundo,


que espatifaram as mentes na prisão esperando

por impossíveis criminosos de cabeças douradas

e o charme da realidade nos corações

que cantaram doces blues por Alcatraz,


que se recolheram ao México para cultivar um vício, ou

às Montanhas Rochosas para atender a Buda ou a Tânger

para os meninos ou à Southern Pacific para a

locomotiva negra ou a Harvard para Narciso a

Woodlawn para a “coroa de flores” ou a cova. (14)


que exigiram exames de sanidade acusando o rádio de

hipnotismo e foram deixados com sua insanidade &

suas mãos & um júri indeciso,


que jogaram salada de batata em conferencistas do CCNY

sobre dadaísmo e em seguida se apresentaram

nos degraus de granito do manicômio com as cabeças

raspadas e um discurso arlequinal de suicídio,

exigindo lobotomia imediata (15),


e que em vez disso receberam o vazio concreto da

insulina Metrazol eletroterapia hidroterapia

psicoterapia terapia ocupacional pingue-pongue

& amnésia,


que num protesto triste virara apenas uma

mesa simbólica de pingue-pongue, descansando

um pouco em catatonia,


retornando anos depois realmente carecas exceto por uma

peruca de sangue, e lágrimas e dedos, para o óbvio

destino de louco da vila das insanas cidades do Leste,


corredores fétidos de Pilgrim State, Rockland e Greystone, (16)

lutando com os ecos da alma, agitando-se e revolvendo-se,

no dólmen-domínio banco-solidão de meia-noite do amor,

o sonho da vida um pesadelo, corpos transformados

pedras tão pesadas quanto a Lua,



com a mãe, finalmente *****, e o último livro

fantástico lançado pela janela do cortiço,

e a última porta fechada às quatro da madrugada

e o último telefonema atirado na parede em resposta

e o último quarto mobiliado esvaziado até a última

peça de mobília mental, uma rosa de papel amarelo

retorcida num cabide de arame sobre o armário,

e, mesmo imaginário, nada além de uma

pequena partícula de alucinação


– ah, Carl, enquanto você não estiver a salvo eu não

estarei a salvo, e agora você está mesmo mergulhado

no completo caldo animal do Tempo –


e que por isso correram pelas ruas geladas obcecados

por uma súbita iluminação da alquimia do uso da

elipse do catálogo do metro (17) &

do plano vibratório,



que sonharam e abriram brechas encarnadas no Tempo &

Espaço através de imagens justapostas, e prenderam

o arcanjo da alma entre duas imagens visuais e

reuniram os verbos elementares e juntaram

o substantivo e o traço de consciência saltando

numa sensação de Pater Omnipotens Aeterne Deus, (18)



para recriar a sintaxe e a medida da pobre prosa

humana e ficaram parados na frente de vocês

calados e inteligentes e trêmulos de vergonha,

rejeitados apesar de expor a alma para se conformar

ao ritmo do pensamento em sua cabeça descoberta e

infinita,


o vagabundo louco e beat angelical no Tempo,

desconhecido, apesar de registrar aqui o que

poderia ficar por dizer no tempo após a morte,



e se reergueram reencarnados na roupagem espectral

do jazz à sombra dourada dos instrumentos e

tocaram o sofrimento de amor da mente nua

da América num eli eli lamá sabactani (19) lamento de

sax que estremeceu as cidades até o último rádio,


com o coração absoluto do poema da vida

estripado de seus próprios corpos

bom para comer por mil anos.




II


Que esfinge de cimento e alumínio arrebentou

seus crânios e devorou seus cérebros

e a imaginação?


Moloch! (20) Solidão! Sujeira! Feiura! Latas de lixo

e dólares inalcançáveis! Crianças gritando

embaixo das escadas! Garotos soluçando

nos quartéis! Velhos chorando nas praças!


Moloch! Moloch! Pesadelo de Moloch! Moloch o

sem amor! Moloch mental! Moloch o duro

julgador dos homens!


Moloch a incompreensível prisão! Moloch o presídio

sem alma de ossos trançados e congresso de

aflições! Moloch cujas construções são julgamento!

Moloch a pedra imensa da guerra! Moloch os

governos atônitos!


Moloch cuja mente é pura maquinaria! Moloch cujo

sangue é dinheiro circulante! Moloch cujos dedos

são dez exércitos! Moloch cujo tórax

é um dínamo canibal! Moloch cuja orelha é uma

cova fumegante!


Moloch cujos olhos são mil janelas apagadas!

Moloch cujos arranha-céus se erguem pelas ruas

extensas como Jeovás infinitos! Moloch cujas

fábricas sonham e arfam na fumaça! Moloch

cujas chaminés e antenas coroam as cidades!



Moloch cujo amor é óleo interminável e pedra!

Moloch cuja alma são bancos e eletricidade!

Moloch cuja pobreza é o espectro do gênio!

Moloch cujo destino é uma nuvem de hidrogênio

assexuada! Moloch cujo nome é a Mente!


Moloch em que me mantenho solitário! Moloch em que

sonho anjos! Louco em Moloch! Chupador

de caralhos em Moloch! Sem homem ou amor em Moloch!


Moloch que cedo penetrou em minha alma! Moloch

em que sou uma consciência incorpórea! Moloch

que me afunguentou do meu êxtase natural! Moloch

que abandono! Acordar em Moloch!

luz escorrendo do céu!



Moloch! Moloch! Apartamentos robôs! subúrbios

invisíveis! tesouros esqueléticos! capitais

cegas! indústrias possessas! hospícios invencíveis!

caralhos de granito! bombas monstruosas!


Eles quebraram as costas erguendo Moloch ao céu!

Calçadas, árvores, rádios, toneladas! erguendo

a cidade para o céu que existe e está

em todos os lugares sobre nós!



Visões! presságios! alucinações! milagres! êxtases!

desceram o rio americano!


Sonhos! adorações! iluminações! religiões! a carga

toda de besteira sensitiva!


Investidas! sobre o rio! saltos e mortificações!

desceram a correnteza! Elevações! Epifanias!

Desesperos! Dez anos de uivos e suicídios!

Mentes! Novos amores! Geração enlouquecida!

descendo pelas pedras do Tempo!


Verdadeiras gargalhadas sagradas do rio! Eles viram

tudo! o olhar selvagem! o grito sagrado! Eles

deram adeus! Pularam do telhado! para a solidão!

acenando! levando flores! Rio abaixo! rua acima!




III


Carl Solomon!


Estou com você em Rockland onde você está

mais louco do que eu


Estou com você em Rockland onde você deve estar

se sentindo muito estranho


Estou com você em Rockland onde você imita

a sombra da minha mãe


Estou com você em Rockland onde você matou

suas doze secretárias


Estou com você em Rockland onde você ri

desse humor imperceptível


Estou com você em Rockland onde somos grandes

escritores na mesma máquina de escrever porcaria



Estou com você em Rockland onde seu estado

se tornou grave e é noticiado pelo rádio


Estou com você em Rockland onde as faculdades do

crânio não toleram mais os vermes do sentido


Estou com você em Rockland onde você bebe

o chá dos peitos das solteironas de Utica


Estou com você em Rockland onde você brinca

com os corpos de suas enfermeiras as harpias

do Bronx


Estou com você em Rockland onde você grita

numa camisa de força que está perdendo o jogo

do verdadeiro pingue-pongue do abismo


Estou com você em Rockland onde você martela

um piano catatônico a alma e inocente e imortal

jamais deveria morrer impiamente num manicômio

armado


Estou com você em Rockland onde cinquenta choques a

mais jamais trarão sua alma até seu corpo

de volta de sua peregrinação até uma cruz no vazio


Estou com você em Rockland onde você acusa seus

médicos de insanidade e maquina a revolução

socialista judaica contra o Gólgota fascista

nacional


Estou com você em Rockland onde você rasgará

os céus de Long Island. E ressucitará seu Cristo

vivo e humano da sepultura sobre-humana


Estou com você em Rockland onde vinte e cinco

mil camaradas loucos cantam em conjunto as

estrofes finais da Internacional


Estou com você em Rockland onde abraçamos

e beijamos os Estados Unidos sob nossos

lençóis Estados Unidos que tossem a noite

toda e não nos deixam dormir


Estou com você em Rockland onde despertamos

eletrocutados do coma pelos aviões de nossas

próprias almas rugindo sobre o telhado



eles vieram lançar bombas angelicais o hospital

se ilumina paredes imaginárias colapsam

Ó legiões esqueléticas corram para fora

Ó embandeirado choque de misericórdia a guerra

eterna chegou Ó vitória esqueça sua roupa

de baixo estamos livres


Estou com você em Rockland nos meus sonhos

você caminha gotejando de uma viagem marinha

pela estrada que atravessa a América em lágrimas…

até a porta da minha casa na noite ocidental


San Francisco 1955-1956


 




UIVO


Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo!

Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo! Santo!


O mundo é santo! A alma é santa! A pele é santa!

O nariz é santo! Santos a língua o pau a mão o cu!


Tudo é santo! todo mundo é santo! todo lugar é santo!

todo dia está na eternidade! Todo homem é um anjo!


O vagabundo é tão santo quanto o serafim! o louco

é tão santo quanto você minha alma é santa!


A máquina de escrever é santa o poema é santo a voz

é santa os ouvidos são santos o êxtase é santo



Santo Peter Santo Allen Santo Solomon santo Lucien

santo Kerouac santo Hunke santo Burroughs santo

Cassady (21)

santos os desconhecidos mendigos sofridos e

fodidos santos os horrendos anjos humanos!


Santa a minha mãe no asilo de loucos! Santos os caralhos

dos vovôs do Kansas!


Santo saxofone que geme! Santo o apocalipse bop!

Santos bandas de jazz marijuana hipsters

Paz & pico & bateria!


Santa a solidão dos arranha-céus e das calçadas!

Santas as cafeterias lotadas de milhões!

Santos os misteriosos rios de lágrimas sob as ruas!


Santo o fanático solitário! Santo o imenso cordeiro da

classe média! Santos pastores loucos da rebelião!

Quem saca que Los Angeles É Los Angeles!


Santa New York Santa San Francisco Santa Poeria &

Seattle Santa Paris Santa Tânger Santa Moscou

Santa Istambul!


Santo o tempo na eternidade santa a eternidade no

tempo santos os despertadores no espaço santa

a quarta dimensão santa a Quinta Internacional

santo o anjo em Moloch!


Santo o mar santo o deserto santa a ferrovia santa

a locomotiva santas as visões santas as alucinações

santos os milagres santo o globo ocular santo o

abismo!


Santo perdão! misericórdia! caridade! fé! Santos!

Nossos! corpos! sofrendo! magnanimidade!


Santa a sobrenatural extra iluminada brilhante

bondade da alma!


Berkeley, 1955

terça-feira, 2 de março de 2021

 (...) A verdadeira colheita do meu dia dia é algo de tão intangivel e indescritivel quanto as matizes da aurora e do crepusculo. O que tenho na mao é um pouco da poeira das estrelas e um fragmento do arco-iris.


Henry David Thoreau

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Brasil: Portugal e os índios

 Epinicio        .

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Sensimilla


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Por desintegração de cores/ iluminação de flores: / construção de ventos / formação de intentos

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Enraizar-se em figuras / configurar-se em folhas / Penas de discernimento / execrar em silêncio... //

Telas são conquistadas.

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Impulso de curiosidade / invenção a parte / Necessidade cromalóptica de / paradigmas construídos //

Mundo nativo intocavelmente.

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Neutro / ignoto a julgamento: / apenas vivo: / com a naturalidade da / natural identidade / quase anonima de / Liberdade plena //

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Repleta de interstícios inexplorados / despersonalizando em estranhos //

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E o contato é feito / convenções, deliberações, trocas... / civilizações estudadas / E o contrato, os relatos: arquivados

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Histrião formado! / com palco verde / instinto interligado ao / inesperado feito desse ''desvendar'' //

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Observar o sublime / recepção de ideias conturbadas / exploradoras //

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Mundo temido / novo sentido: / agregação de valores / nascimento de amores... / em pensamento de nação / flores colhidas por obrigação / investigada a navegação indeterminada: / India que des(Caminha) ! / e sonha.

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Habitada e já habituada ao novo.

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Despidos pela natualidade / de ser / nu corpo próprio / rituais e danças / lapidadas

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Guerras de rotas / trocas de desejos

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Chegada de mais mão-de-obra / daquele mesmo continente / que descobre / que mistura o incoerente / extrai a duvida / elimina o inocente / para enxergar o outro continente

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Prioridade evasiva / admiração já não vista / Liberdade / para presos da burocracia das convenções.

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Reação / repressão / iluminação da contradição / estímulo de progresso / dissimulação afirmada / intermitencia notada: / subversão

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O novo-mundo já possui história / inventada

.

Que se faça presente na tez observada a miscigenação / fica então / a repressão

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De um assimilar de diferença que transforma e forma / 

dos intrepidos navegantes / instiga solercia em selvagens

.

Inebria em instantes / confisco de aragem: ''do Leste!'' diz o resultado.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

 Nesses avisos/ desencontrados/ que permeia essa madrugada obscura/ Na boca um sorriso nostalgico/ De quem percebeu/ Que o amor que/ Existe em mim/ Só será / Demonstrado/ Nessas palavras/ que te digo/ Quando lembro do sonho/ que abrigo/ em minha alma desamparada/ Sem sua presença/ Que com o tempo/ Talvez será outra vez encontrada.

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

 Mesmo que/Você não /Me entenda/Não me leve a mal/Faço isso/Porque/Te quero bem/Vou construir/Saudades/Inimagináveis /E concluir/Que ainda não é tarde/Ainda é cedo/e o infinito é sempre /Como sempre foi/O amor por você/Que guardo/E viajo/Inconformado/Que não/Compreendi

 Me beija /Como se/Não houvesse /Amanhã /Toque meu corpo/Como quem quer tocar/as estrelas/Conta-me histórias para eu/Poder viajar com você /Deixe-me entrar no teu ritmo/Das batidas do teu coração/E não me deixe/Sair dele e depois disso/Ficarei por inteiro saudade.../Vou ouvir tua voz ao longe/E lembrar ao ver no vermelho/Que foi lindo